segunda-feira, 25 de outubro de 2010

LIV estreia remake de Hawaii Five-o

O texto a seguir sai na edição de novembro da Monet, que já está na banca. A série estreou na quinta passada e nós fomos até o Havaí ver os bastidores do programa, que marca a  volta de Daniel Dae Kim, o eterno Jim de Lost, e de Alex O´Loughlin, que, depois duas séries canceladas (Moonlight e Three Rivers) tenta se livrar da fama de pé frio.

O paraíso é aqui?

Clássico da TV americana, Hawaii Five-0 está de volta com mais densidade, mais cenas de ação e crimes que vão de terrorismo a tráfico de pessoas, garantem seus criadores

por bruno segadilha, de oahu*

A música é inconfundível, as imagens são familiares. Surf, praia, mulheres com saia de palha, colares de flores. Ninguém sabe dizer ao certo se estamos falando de Magnum, Ilha da Fantasia ou “qual mesmo o nome daquela série dos policiais naquele carrão”? Hawaii Five-0. Sim, um dos maiores sucessos da TV americana até hoje, a série confunde a cabeça do público que não era nascido na década de 1960 ou 70, graças a essa sequência de estereótipos. Uma falha que os produtores da nova versão pretendem corrigir, dando mais ação e densidade ao roteiro, algo que, na opinião deles, faltava na série exibida de 1968 a 1980. “Não vamos fazer algo apenas de policiais combatendo crimes locais, com aquelas famosas investigações. Queremos desenvolver os personagens, saber quem são essas pessoas, suas famílias, o que elas trazem do passado. Além disso, os crimes são diferentes,  internacionais, porque o Havaí fica no meio do Pacífico, é rota para quase toda parte do mundo”, diz o produtor-executivo Roberto Orci.

Tantas mudanças, entretanto, não significam que o programa original tenha sido completamente deixado de lado e que a nova versão utilize apenas a marca para conquistar a audiência. Orci explica que uma das preocupações da equipe de criação foi manter o equilíbrio entre as antigas aventuras vividas por Jack Lord e as atuais histórias. Refilmagens, na sua opinião, são mais complicadas de se fazer do que programas totalmente inéditos. “Primeiro de tudo, é preciso saber que nem tudo da versão original pode ser trazido de novo. Mesmo que você ame o programa, é preciso livrar-se do que não funcionava e saber o que ainda pode dar certo. Às vezes, é difícil fazer isso, já que você traz uma memória afetiva daquilo. Para um fã, é complicado ver defeitos. Se você simplesmente refizer tudo igual, é um problema. Se mudar absolutamente tudo do que havia no original, também é um problema. É preciso achar um meio termo e isso não é fácil. Eu costumo comparar nosso processo de criação com o do Hip Hop, quando os rappers criam uma nova música em cima de uma melodia já conhecida. Alguns consideram um roubo, eu acho que é algo totalmente novo e original”, diz o também produtor Alex Kurtzman, que, a lado de Orci ajudou a escrever a refilmagem do clássico Star Trek para os cinemas.




Por que, então, a TV americana tem investido tanto em remakes, a exemplo de séries como  90210 e Melrose Place? Trata-se de uma crise de criatividade dos canais? Para os produtores não. Na opinião deles, refilmar grandes sucessos é uma forma que as grandes redes têm de correr menos riscos, já que marcas fortes atraem público mais facilmente. “Há tantas escolhas que os estúdios e canais têm que tomar, que talvez eles achem que confiar em uma marca bem sucedida seja algo mais garantido”, diz Orci. No entanto, ele garante que esse raciocínio não facilita em nada a aprovação de um projeto de remake, que concorre em pé de igualdade com outras produções que ambicionam entrar na programação dos canais: “Temos que fazer um primeiro episódio absolutamente ótimo e com elementos novos. Além disso, sabia que precisava de uma equipe que amasse a série como eu, que assistia com meu pai e tenho laços afetivos com a atração. Se não fosse assim, não daria certo, não conseguiríamos concorrer com outros projetos porque os canais não aprovam nada mediano”, diz Peter M Lenkov, o terceiro produtor.

Dirigido por Len Wiseman, de Duro de Matar 4.0, o episódio piloto custou cerca de 8 milhões de dólares, um dos mais caros da TV. E  já começa com uma sequência de explosões para introduzir o novo Steve McGarret (Alex O´Loughlin), oficial da Marinha que está na Coreia do Sul atrás de um terrorista que resolve chantageá-lo usando seu pai. Entre bombas e tiros, McGarret mata o irmão do terrorista e acaba perdendo o pai, assassinado a sangue frio. De volta à terra natal, ele é convidado pela Governadora do Estado a chefiar uma nova equipe de investigação ganha carta branca para fazer o que for necessário em seu trabalho, incluindo desbancar o arredio Danny Danno (Scott Caan) e convocar  Chin Ho Kelly (Daniel Dae Kin), ex-policial acusado de suborno. E, pelo que se vê nos primeiros episódios, percebemos que ele está mesmo disposto a usar sua imunidade: além de bater em possíveis culpados atrás de confissões, McGarret não tem cerimônia em atirar, atropelar ou mesmo ameaçar jogar alguém de cima de um hotel de luxo. Para quem não acompanhou a truculência de Steven desde o começo, o LIV faz uma maratona no dia 20 com os cinco primeiros episódios. “Danno vai se irritar com esses métodos e esse vai ser um ponto de tensão entre eles”, diz o intérprete Scott Caan.



Danno, aliás, foi o personagem mais trabalhoso durante a escalação de atores, segundo o trio criador. Apesar dos vários testes, a equipe de produção não encontrava ninguém que julgassem se encaixar no papel até que, poucos dias antes da gravação, chegaram a Caan, filho do ator James Caan. “Nós o encontramos em cima da hora e não sabíamos se ele toparia largar tudo e vir para o Havaí. Precisávamos de um contraponto ao jeito mais sério e focado do Steve e ele é perfeito pra isso”, conta Lenkov. “Eu não tenho processo de criação. Tento me divertir. Pra mim não há nada de interessante em ver atores tentando parecer policiais, acho que nosso trabalho é dar algo a mais aos personagens, torná-los interessantes, engraçados. É uma diversão, meu personagem é meio pateta, então, tento brincar com isso”, diz o divertido Caan, que confessa improvisar bastante nos sets. A única coisa de que ele é poupado é de cenas de ação mais pesadas, já que o ator se recupera de uma cirurgia no joelho. “Apesar de que, todos usamos dublês, o único ator que faz suas próprias cenas de ação é o Tom Cruise, acho insano”, brinca Alex O´Loughlin. “Sou bonito demais pra não usar dublês”, completa Caan.

Para escalar Daniel Dae Kin, os produtores tiveram apenas que ir até Queen Ka´ahumanu Highway, endereço do ator no Havaí. Dae Kin estava trabalhando nos últimos episódios de Lost quando foi convidado para o projeto e não hesitou muito para  aceitar. “Queria continuar na ilha. Vim com a minha família e tenho uma vida toda organizada por aqui”, diz o ator, que é dono de um restaurante por lá. “Mas não servimos comida coreana ou típica de nenhum lugar”, adianta o ator, normalmente visto como uma figura étnica. No papel de Chin Ho, Dae Kin poderá mostrar ao público que fala inglês e muito bem: nascido na Coreia do Sul, mas criado nos EUA, o ator nunca falou coreano fluentemente, apenas decorava algumas falas. “Fico feliz de continuar aqui em outro contexto. Meu personagem, agora, é um sujeito acusado de suborno injustamente que finalmente tem a chance de voltar para a polícia por causa do Steve, um amigo de infância. Agora ele também tenta ajudar a prima Kono, que está para se formar na polícia, mas pode ser prejudicada pela má fama de Chin Ho”.




Na primeira versão, Kono era homem. Dessa vez, entretanto,  os criadores queriam uma figura feminina para completar o time de policiais. “Achamos que entre Alex, Scott e Daniel já havia muitos homens, então vimos que precisávamos colocar uma figura feminina, e achamos interessante a  história da Kono, uma novata que vai ter que descobrir seu lugar no time”, diz Kurtzman. “Na primeira versão, as mulheres eram relegadas a secretárias ou papéis mais sensuais, agora, não, elas estarão no centro da trama”, completa Orci. Essa é a segunda vez que a atriz Grace Park interpreta um tipo que originalmente não é feminino: em Ballestar Galactica, Boomer, seu personagem, também foi originalmente concebido como homem. “A série exige muito de mim, algumas cenas são bastante puxadas, ás vezes acho que não darei conta, mas, no fim, tudo dá certo, diz a saradíssima atriz.

Protagonista das canceladas Moonlight e Three Rivers O´Loughlin tem nas mãos a terceira chance de emplacar um programa de sucesso no canal CBS, que tem apostado pesado para promover a nova atração. Mas isso não intimida o ator que prefere não pensar em  números. “Foram duas ocasiões difíceis. Moonlight foi complicado, mas Three Rivers foi mais ainda, porque eu achava que era uma ótima série e eu coloquei muita energia ali, fiquei muito tempo com cirurgiões, tentando aprender... Eu não sei o que se passa na cabeça de quem decide isso, quais os critérios exatos para se cancelar uma série, então, pra mim, tudo se resume a chegar e trabalhar. Mas tenho certeza de que desta vez, estamos falando de um programa que veio para ficar”.

HAWAII FIVE-0, quartas, 22h, LIV

*O jornalista viajou a convite do canal LIV.

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