terça-feira, 30 de novembro de 2010

The Glades




The Glades estreou no último domingo. Veja minha matéria paraa Monet deste mês.


por bruno segadilha, de miami*

Fort Lauderdale, 19 de agosto de 2010. Na esquina de um hotel de luxo, carros de polícia e grandes forgões fecham a rua para a gravação de uma cena externa da série The Glades, que estreia aqui este mês. “Detesto quando eles fecham tudo por aqui, ficam horas e é uma confusão só. E nem consigo ver algum ator famoso, pra conseguir, é preciso esperar muito. Estou aqui tentando, mas só vi uma atores que não conheço muito”, diz uma das moradoras do local que quis apenas se identificar como Brandy. Nessa época do ano, o calor na Flórida é infernal, então, os atores envolvidos nas gravações ficam trancados em uma van refrigerada. Só saem no exato momento do “gravando” e voltam assim que possível. Ainda assim, ficam ensopados, tamanha a umidade do lugar, cujo céu, à tarde,  fica cheio de nuvens negras e sob perigo de um tufão ou um furacão. “Tento não suar tanto, mas olha como eu fico só de sair por cinco minutos do ar condicionado”, diz a simpaticíssima Michelle Hurd, que em nada lembra  a carrancuda Collen, diretora do departamento de polícia de Miami que vive na cola do protagonista Jim (Matt Passmore). 



Detetive competente, porém de gênio difícil, Jim foi transferido de Chicago para Palm Glade, na Flórida, depois de ser acusado de dormir com a esposa de seu capitão. Por lá, começa irritando seus colegas de trabalho com seu jeito debochado e sua inteligência acima da média, algo que lembra um pouco um certo médico arrogante que arrasta a perna. “Acho que Jim é um sujeito brilhante, mas seu jeito tem mais a ver com o fato de ele ser um cara mais tranquilo, não chega a ser arrogante nem tem um ar intimidador, ele leva as coisas muito na esportiva, tem um humor fino”, diz Matt Passmore. Jim é o primeiro protagonista do ator australiano, que há um tempo tentava engrenar uma carreira na TV americana. “Eu havia feito alguns testes para outras séries, mas nenhuma tinha um papel tão interessante quanto o Jim. Acho muito rica essa personalidade dele, meio debochada, mas extremamente competente”.

Já no primeiro episódio, podemos constatar a hipereficiência do tenente, que investiga o aparecimento de um corpo em um pântano da Flórida. Sem pistas de quem seja o morto em questão, o policial é capaz de entrar  um lamaçal descalço, interrogar adolescentes menores de idade  sem permissão e atirar em um crocodilo protegido por leis ambientais para abrir sua barriga. “Ele não tem mesmo muito limite para fazer seu trabalho bem feito, acho que isso não víamos muito em outras séries policiais”, diz o ator sobre o tom diferenciado da série. Segundo Passmore, é exatamente isso que faz distancia The Glades de ser uma nova CSI: Miami: em vez de um protagonista grave e soturno como David Caruso, o que se vê na tela é um sujeito mais leve e engraçado como Jim, que é capaz de rir de si mesmo e de incorporar o velho “jeitinho” latino na hora de resolver seus casos. Além disso, o ator destaca o fato de a série ser mais focada mais na vida de seus personagens e um pouco menos nos crimes. “Ele não burla a lei. Mas é determinado o suficiente para não ficar paralisado diante de um ‘não’ que eventualmente ouça”.


Tanta ginga e malícia acabam por gerar uma certa antipatia entre Jim e a chefe Collen, que nem sempre tem bom humor para encarar gracinhas e piadas, muito menos para aprovar os métodos do subordinado. “Ele acaba sendo uma dor de cabeça para Collen, por seus métodos, mas, no fundo, sei que existe ali uma certa admiração. Nada que vá se transformar em romance, pelo menos eu acho. Mas, existe, sim, um afeto lá no fundo, bem no fundo”, diz Michelle Hurd, veterana em papéis secundários na TV. “Não ligo muito para isso. Acho que um ator que trabalha com alegria, como eu, faz, com qualquer personagem, um bom trabalho. Aquela história de que não existem personagens secundários, mas atores secundários, para mim, é verdade”.


Além de Michelle, o elenco feminino traz ainda Kiele Sanchez, que  vive a enfermeira boa gente Callie, objeto de desejo de Jim. Casada com um presidiário e mãe de um pré-adolescente, Callie resiste às investidas de Jim, mas se transforma em uma das melhores amigas do policial e espécie de consultora dele para assuntos especiais, como saber quando uma adolescente perde e virgindade. “Callie tem cara de garota, mas já passou por muitas coisas na vida. Agora, encontrou um amigo que é quase um segundo pai para o filho dela. É claro que se sente tentada a ficar com ele, mas respeita demais seu casamento, é uma mulher de princípios muito fortes, jamais trairia o marido”, diz a atriz, mais famosa  por sua participação em Lost como a voluntariosa Nikki. “Foi uma experiência diferente, intensa, talvez. Não estava preparada para uma rejeição tão grande do público. Naquela época, foi difícil me distanciar da personagem não tomar aquela rejeição como algo para mim. Conversei com os produtores e disse a eles: ‘Se vocês não tem nada mais planejado pra mim, deixem-me ir embora’, e eles foram ótimos comigo, jogaram muito limpo”, conta. As boas lembranças ficam por conta do colega de elenco brasileiro Rodrigo Santoro. “Um sujeito fabuloso e tão bonito, que não parecia real. Lembro que quando o vi pela primeira vez, não acreditei, achei que ele não existisse”, derrama-se em elogios.



Kiele torce para que seu papel em The Glades seja mais longevo do que a vida de Nikki na ilha de J.J Abrams, e acredita que a série tenha potencial para isso. “O público se identifica com séries investigativas,  e nós trazemos muitos elementos novos. Se vai dar certo ou continuar? Acredito que sim, mas não dá para saber. Vamos trabalhando e fazendo o melhor possível. Acho que o público fica feliz mesmo em assistir a um programa com um cenário tão bacana quanto a Florida”, diz. Está certo, Kiele. Uns bons tempos em Miami Beach não fazem mesmo mal a ninguém. Que venham mais levas de crimes a serem resolvidos em terras tropicais.

THE GLADES, sextas, 23h, A&E

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